by Paulo Figueiredo
Agamben, no seu livro O Aberto: o Homem e o Animal refere que a máquina antropológica, onde o homem fazia uma produção de si próprio e construía o mundo com a linguagem, foi reconfigurada através da ciência. A ciência que decretou o Humanismo e a décalage entre Homem e Animal, colocando-o como soberano no mundo, o Sujeito cartesiano que “pensa, logo existe”. Partindo de uma iluminura pintada em uma Bíblia hebraica do séc. XIII, conservada na Biblioteca Ambrosiana de Milão, Agamben atravessa autores como Bataille, Kojève, Lineu, Von Uexküll e Heidegger, para estabelecer que a criação de apparatus trouxe a linha que divide o humano do inumano e cria uma cicatriz, uma fronteira/ferida entre homem e animal que é desviada para dentro do homem, colocando-o como estado de excepção. Ou seja, o homem só o é, na medida em que se reconhece como não sendo animal. E para tal, concebe-se, por intermédio da técnica, como dominador da Natureza colocando-a, como Heidegger dizia, em “total disponibilidade” ao alcance do proveito do humano. Assim, por via das ciências do humanismo e do apparatus, abre-se uma ferida até agora incicatrizável; uma separação entre Homem e Natureza. Projecto que começa agora a ser posto em causa perante a nova consciencialização para como o ecossistema tem sido colocado à disposição do Homem.
A apresentação terá por base os livros de Agamben e de Paul Ricoeur (O Aberto e Si-Mesmo Com Um Outro, respectivamente) e fará uso de exemplos de Bataille, Kojève, Lineu, Von Uexküll e Heidegger para situar e discutir a máquina antropológica como cisão entre Homem e Animal, para no final introduzir a hipótese da deterioração do ecossistema como catalisador da necessidade de repensar do lugar do Homem no mundo, usando para tal a Técnica como mediadora (como Walter Benjamin pretendia), e não como instrumento de dominação (Heidegger).
Biografia:
Paulo Figueiredo, 35 anos, residente em Lisboa, doutorando em Ciências da Comunicação pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Actualmente é investigador independente nas áreas das ciências da comunicação e filosofia da tecnologia e colaborador pontual do Centro de Estudos de Comunicação e Linguagem.
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